A linha da história

por Orlando Senna​

       A Segunda Oficina foi montada de 20 a 30 de outubro de 2001, com 11 participantes. A maioria trabalhou relatos curtos e chegou a primeiros tratamentos de roteiros, nesse encontro houve um sentimento muito forte de se chegar a resultados práticos, o cinema brasileiro estava passando por uma crise de produção. Assim aconteceu com Adriana Oliveira e seu Acorde; Andrea Meyer e A loura do oitavo andar; Daniel Fróes e Vida bem me queres; Diogo Reyes e Cinza; Ilo Alves e Da mente ao ventre; João Sapucaia e Entre o céu e o inferno; e Felipe Kowalczuk com Sub Urbano, filmado dois anos depois. Paulo Alcântara compareceu pela segunda vez para adiantar um roteiro longo, Cirina, e tivemos de abrir um espaço para o documentário para atender Monique Ferrari, que estava com a cabeça cheia de planos para realizar um doc sobre o poeta Galvão, dos Novos Baianos, e não encontrava um jeito, uma boa maneira de narrar, de desenhar com nitidez e poesia o seu tema.

      A oficina estava terminando e todo mundo sofrendo com a Monique e, buscando soluções, começamos a fazer perguntas a ela sobre o que fazia Galvão quando não estava fazendo poesia ou cantando e então seu rosto se iluminou e ela encontrou a linha da história: “ele faz jardins”. E fez um roteiro para documentário, necessariamente aberto, com o título Meu coração é como se chovesse, tendo como linha mestra o artista construindo um jardim desde a preparação da terra até as primeiras flores. Dá vontade de contar alguns dos muitos momentos mágicos acontecidos nesses anos, em que algum participante entra em êxtase ao encontrar o jeito melhor de contar sua história, mas seria texto para um livro.
      Também estavam Sofia Federico e Lucas Viana, que não se fixaram em uma história, trabalharam ideias (algumas equações dramáticas, como dizemos em Lençóis). Nesse encontro Sofia Federico começou a gestar Vermelho rubro do céu da boca, filmado três anos depois. Também no âmbito desses resultados indiretos da Segunda Oficina está Brilhante, de Conceição Senna, que aí estava como ouvinte, participando de algumas reuniões e convivendo com as pessoas de Lençóis, e concebeu o documentário, realizado entre 2002 e 2004.



continua - 2004...